quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A provação do cupom

Gostaria de falar um pouco sobre a febre dos cupons de desconto, esses groupons, peixes urbanos e etc. que enchem as nossas caixas de emails com ofertas fabulosas.  Uma oferta interessante até faria com que uma cética (eu) se prontificasse a ir ao tal local conhecer, se gostasse do serviço até poderia virar uma cliente frequente e recomedar aos amigos e conhecidos. O mais simples dos mortais (eu de novo) presumiria que o responsável pelo negócio faria todos os esforços para que esse novo cliente ficasse maravilhado com os serviços oferecidos e voltasse. Certo? Errado.

Infelizmente, o titular do cupom é visto como um cidadão da pior espécie, um sanguessuga, um indivíduo que não está pagando como os demais clientes, um ser de uma casta inferior, enfim, um canalha.
 Recentemente, fui a um tal “Q Bar” na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Ora, um lugar daqueles muito fashionzinhos com luzes indiretas e com combinações de cardápio que muitas vezes não conseguimos compreender. Eu não tinha cupom e a minha amiga tinha (não, não foi uma experiência antropológica propositada, mas poderia ter sido).
Logo na entrada, sorrisos e boa tarde e depois bum, a notícia: temos um cupom para uma refeição (entrada, prato principal e sobremesa). A garçonete se prontificou a dizer que o cupom era só para refeições em horários específicos e que já não podíamos utilizar naquele dia. Como realmente já eram quase quatro da tarde, a cozinha devia estar fechada, compreensível. Perguntei, só por via das dúvidas. Não. A cozinha não estava fechada, o cupom é que era apenas para depois das 17h00 no caso de jantar. Eu: “Esperamos até às 17h00”. Ela: “Não, 17h00 não, perto das 18h00”.
Com esse golpe alla Anderson Silva logo na entrada já ficamos um pouco incomodadas, mas como pessoas de boa vontade, nos sentamos e esperamos acompanhadas por uma entrada e bebida pedida por mim, cliente legítima, não portadora de cupom.
Após longo e tenebroso inverno, afinal já era possível pedir a refeição com cupom. Vieram então dois cardápios, um que dizia “grupon” na parte superior (sem preço) e outro que não tinha nenhuma indicação mas que gritava “clientes pagantes”. Após a escolha da entrada, ouvimos da garçonete: “tem que pedir tudo junto”. Reação: “Oi?”. Resposta: “Cliente groupon tem que pedir tudo junto”. Eu: “Por quê?” Após essa pergunta que me pareceu bastante óbvia, a garçonete esboçou sinal de irritação, aquele leve suspiro tipo: essas são daquelas que vão atrapalhar o meu serviço.
Depois disso, a minha amiga, a pária, teve que pedir a refeição toda em uma sentada. Como ela resolveu pedir um dos pratos dos mais caros do cardápio “grupon”, que devo dizer, foi uma combinação entre gosto pessoal e vingança, ouvimos do garçom: “O arroz de pato (prato mais barato do cardápio) também é muito bom, recomendamos. Eu (cliente pagante) disse: “que bom, vou pedir então”. Minha amiga: “vou ficar com o mesmo prato”. Garçom: Ok (decepcionado)”.
Para resumir, a comida estava muito agradável e o ambiente do restaurante é realmente muito bonito, mas certamente nunca mais voltarei lá.
Devo deixar claro que essa não foi a única experiência cupônica ruim que tive ou que já presenciei (para aqueles que podem argumentar que pode ter sido um azar, uma coisa pontual). Tive outras duas experiências anteriores igualmente sectárias e por isso me tornei uma anti-cupom ferrenha. O que acontece com groupons da vida é o mesmo que acontece em muitos restaurantes rodízios em que o garçom foge de você, e principalmente em casos de gratuidade e que pode ser diagnosticado como a síndrome do “estão querendo me ferrar”.
Uma teoria é que nós aqui em terra brasilis, fomos e somos tão explorados e desrespeitados que acabamos traumatizados e descarregamos no atendimento ao cliente. Será? Bom, isso já não cabe a mim analisar. Só digo que, hoje, o máximo que me permito aceitar são aqueles 10% extra em pacotes de batatas fritas e sempre faço uma cara de boa pessoa quando chego ao caixa, só por via das dúvidas.

domingo, 22 de julho de 2012

Eu sou você amanhã

A minha querida amiga Flavia Moretti me enviou recentemente dois vídeos que explicam um pouco sobre a evolução das gerações desde os baby boomers até a nossa, a geração blogueira e facebookiana cujos celulares soam de 5 em 5 segundos com atualizações de seja o que for. Ai vida severina... Enjoy!

We all want to be young - http://vimeo.com/16641689

All work and all play -  http://vimeo.com/44130258


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Focinho


Antes de começarmos a sessão de instilação generalizada, gostaria de tecer algumas considerações (sempre quis usar “tecer considerações” faz parecer que sei alguma coisa do assunto) sobre a concretização mais espontânea e irracional da crítica: o palavrão.

Convenhamos que nada como um “táquipariu” às vezes para lavar a alma. O ”táquipariu”, talvez pelo seu caráter mais compacto, tem mais força e pujança do que o xingamento completo, é como em Portugal com o “da-sssss” em que o “fo” é eliminado completamente, que igualmente potencializa o efeito do xingamento. Talvez seja também por isso damos nomes curtos aos cachorros: repreender um cachorro chamado Lourival me parece ser muito mais difícil do que um chamado Borg. Mas enfim, estou me dispersando e isso não vem ao caso. 

Eu queria chegar mesmo era nas demonstrações de animosidade menos convencionais que, para alguns, parece ter o mesmo efeito catártico do que os palavrões mais cavernosos. A avó de uma amiga, vendo novela, gosta de proferir silabicamente e em tom de voz baixo a palavra “maldita” quando está perante uma cena daquelas em que a vilã está fazendo uma de suas maldades. Perante essa, arrisco a dizer que o negócio realmente parece estar na intensidade do ódio no momento do xingamento e se for em voz baixa é ainda pior.

O “rebento de mulher de ganho”, criação piadista do meu pai, é outra opção para quem não quer descer do salto, mas se arrisca a não ser compreendido, digo eu. Mas devo dizer que o exemplo mais estranho com que já me deparei, e que é representativo disso, é do meu querido e saudoso tio Cid. Noveleiro de plantão e levemente excêntrico, trazia à tona todo o seu ódio quando eram anunciadas as já extintas cenas dos próximos capítulos. 

Apenas a menção de qualquer dica do que estava por vir na novela o deixava em estado de pura fúria, que se concretizava em um movimento com as mãos que simulava uma tentativa de estrangulamento de um ser imaginário, apenas com o indicador e o polegar, estilo colchetes fechados, acompanhado pela misteriosa palavra que vinha do fundo da alma: FOCINHOOOOOO!

Explicações claras sobre o que ele queria dizer ninguém nunca soube ao certo. A hipótese mais provável que a família colocava era que focinho representaria um animal fuçando onde não era chamado, um ato animalesco de intromissão em assuntos que não lhe diziam respeito, um desrespeito inominável. Já o estrangulamento dispensa explicações.

Na época, do alto dos meus 7 anos de idade, ficava um tanto quanto chocada com essas cenas na sala de estar. Hoje, quando o sangue me sobe vendo certas coisas na tv, vejo a utilidade de um bom focinho proferido do fundo da alma, ou de uns bons colchetes fechados.

Gênesis

Começo por dizer que este blog pretende ser um espaço de reclamação, discussão e catarse. 
É um local para aqueles que sentem a úlcera aumentando quando, claustrofobicamente compactados no metrô de manhã, ouvem do condutor "agradecemos a sua preferência", ou quando vêem o sorriso extasiado da Sandra Annemberg anunciando que mais um panda nasceu em cativeiro no Zoológico de Pequim.

Enfim, este é um espaço sem tema e dedicado a picuinhices variadas. 

Cabe dizer que nesse espaço fica rejeitada a escrita em caps lock e palavrões cabeludos. Afinal, este é um espaço de classe, somos aquelas pessoas que chamam o outro de senhor nem que a seguir o chamemos de imbecil, damos tapa com luva de pelica, para usar uma expressão demodê.

Que se iniciem os jogos!