Infelizmente, o titular do cupom é visto como um cidadão da
pior espécie, um sanguessuga, um indivíduo que não está pagando como os demais
clientes, um ser de uma casta inferior, enfim, um canalha.
Recentemente,
fui a um tal “Q Bar” na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Ora, um lugar
daqueles muito fashionzinhos com luzes indiretas e com combinações de cardápio
que muitas vezes não conseguimos compreender. Eu não tinha cupom e a minha
amiga tinha (não, não foi uma experiência antropológica propositada, mas
poderia ter sido).
Logo na entrada, sorrisos e boa tarde e depois bum, a
notícia: temos um cupom para uma refeição (entrada, prato principal e
sobremesa). A garçonete se prontificou a dizer que o cupom era só para refeições
em horários específicos e que já não podíamos utilizar naquele dia. Como
realmente já eram quase quatro da tarde, a cozinha devia estar fechada,
compreensível. Perguntei, só por via das dúvidas. Não. A cozinha não estava
fechada, o cupom é que era apenas para depois das 17h00 no caso de jantar. Eu: “Esperamos
até às 17h00”. Ela: “Não, 17h00 não, perto das 18h00”.
Com esse golpe alla Anderson Silva logo na entrada já
ficamos um pouco incomodadas, mas como pessoas de boa vontade, nos sentamos e
esperamos acompanhadas por uma entrada e bebida pedida por mim, cliente
legítima, não portadora de cupom.
Após longo e tenebroso inverno, afinal já era possível pedir
a refeição com cupom. Vieram então dois cardápios, um que dizia “grupon” na
parte superior (sem preço) e outro que não tinha nenhuma indicação mas que
gritava “clientes pagantes”. Após a escolha da entrada, ouvimos da garçonete: “tem
que pedir tudo junto”. Reação: “Oi?”. Resposta: “Cliente groupon tem que pedir
tudo junto”. Eu: “Por quê?” Após essa pergunta que me pareceu bastante óbvia, a
garçonete esboçou sinal de irritação, aquele leve suspiro tipo: essas são daquelas
que vão atrapalhar o meu serviço.
Depois disso, a minha amiga, a pária, teve que pedir a
refeição toda em uma sentada. Como ela resolveu pedir um dos pratos dos mais
caros do cardápio “grupon”, que devo dizer, foi uma combinação entre gosto
pessoal e vingança, ouvimos do garçom: “O arroz de pato (prato mais barato do
cardápio) também é muito bom, recomendamos. Eu (cliente pagante) disse: “que
bom, vou pedir então”. Minha amiga: “vou ficar com o mesmo prato”. Garçom: Ok (decepcionado)”.
Para resumir, a comida estava muito agradável e o ambiente
do restaurante é realmente muito bonito, mas certamente nunca mais voltarei lá.
Devo deixar claro que essa não foi a única experiência cupônica
ruim que tive ou que já presenciei (para aqueles que podem argumentar que pode
ter sido um azar, uma coisa pontual). Tive outras duas experiências anteriores
igualmente sectárias e por isso me tornei uma anti-cupom ferrenha. O que
acontece com groupons da vida é o mesmo que acontece em muitos restaurantes
rodízios em que o garçom foge de você, e principalmente em casos de gratuidade
e que pode ser diagnosticado como a síndrome do “estão querendo me ferrar”.
Uma teoria é que nós aqui em terra brasilis, fomos e somos
tão explorados e desrespeitados que acabamos traumatizados e descarregamos no
atendimento ao cliente. Será? Bom, isso já não cabe a mim analisar. Só digo que,
hoje, o máximo que me permito aceitar são aqueles 10% extra em pacotes de
batatas fritas e sempre faço uma cara de boa pessoa quando chego ao caixa, só
por via das dúvidas.